Distrito da Estiva Grande (Santo Antônio da Estiva), num domingo de calor sufocante e sob um sol escaldante, fizemos uma breve visita a uma antiga fazenda de café fundada por suíços na década de 1930 (Fazenda Lagoa Bonita) de propriedade da família Bannwarth – que guarda todos os resquícios de um passado rico em atividades e empreendimentos.
Nas imediações, uma linda lagoa e remanescente do que um dia fora a mata que cobrira toda esta região e portanto, antigo território dos kaingang. Quase por acaso, nos deparamos com a “ Mata da Santa Rita”. Exuberante dentro de todos os limites que lhe fora impostos, mas ainda ali – imponente.
Esta mata, e toda esta localidade, guardam histórias dos conflitos iniciais entre os chamados colonizadores e os Kaingang, que defendiam seus territórios com toda a força que tinham. foi assim que, com tacapes, bordunas e lanças, em 1890 houve o massacre de alguns empregados e membros da família do coronel José Veríssimo da Silva – procedente da capital paulista que havia adquirido de Manuel Ribeiro as terras ribeirinhas do Rio Dourado, em Santa Rita.
Ali se instalara numa casa feita de taipas (já existente), acompanhado da mulher e uma filha casada com Augusto da Silva, que era clarinetista na capital paulista.
José Veríssimo, inapto no trato para com os indígenas, acabou armando para si próprio uma cilada – quando em posição de mando, executa o desmatamento e acaba insuflando a ira e revolta dos kaingang, que acabam por ataca-los e trucida-los.
O massacre é descrito com todos os requintes de crueldade na obra de Edgard Lage de Andrade “ Os sertões da Noroeste”, onde é narrado sob o ponto de vista do conquistador, um trecho da história desta região que é marcada pelo sangue dos indígenas e dos colonizadores que não conseguiam entender que – quando o agricultor adentrava o território indígena e fazia uma pequena roça – ele era “aceito” como um igual– mas quando ele derrubava a mata ostensivamente, isso era interpretado como uma afronta, pois a floresta era para os Kaingang, algo intocável, fonte da vida - de tudo e de todos. A floresta era sagrada.
É muito triste hoje, passar por essas antigas fazendas e perceber que tanto sangue foi derramado, tantas árvores derrubadas e perante o abandono e desolação nos perguntamos: para que?
As propriedades estão lá – quase fantasmas e dos kaingang restaram pouco mais de 50 pessoas, de uma etnia que contava com milhares, segundo Nimuendaju ainda em 1906.
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